quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Epiphany

Em que pesem as dores, comparáveis à de um parto (o que simbolicamente não deixa de ser, posto que justamente nesse período possuímos dados e vivência suficientes para definirmos diante dos nossos próprios olhos quem de fato somos; ou seja, renascemos para uma outra vida, estruturada conforme a percepção que acabamos de esboçar), as conclusões e entendimentos que a crise dos 40 anos (e pelo menos os dez próximos) nos permite experienciar são iluminadores, porque a esta altura da vida vamos à raiz das coisas, ao osso mesmo.
Nosso corpo é feito para, como ocorre com qualquer máquina, durar um certo tempo; nosso coração bate 'X' milhões de vezes; enfim, mesmo durante a infância e adolescência, enquanto nosso corpo se expande, em termos cronológicos não deixa de representar uma máquina sendo consumida pelo tempo, se desgastando a cada segundo que passa. O mestre Paulo Francis já dizia que a grande (se não a única) diferença entre o homem e os demais animais é que nós somos a única espécie que tem consciência de que vai morrer.
A conclusão é que, se caminhamos rumo ao fim, se o relógio gira para a direita e não para a esquerda, se nosso espírito vai 'perder' aquilo que lhe é mais importante nesta experiência terrestre, que é o próprio corpo, seu veículo, nada mais importa, pois que nada há de ir conosco, exceto aquilo que sentimos (e o sentimento é a verdade) e, um pouco menos importante, aquilo que pensamos (o pensamento é vulnerável a ilusões, especialmente quando vai contra o sentimento), então amemos uns aos outros.
Contribuamos para que possam ocorrer apenas momentos bons, momentos de amor, memórias doces e de alta vibração. Servir é a maior expressão do amor. Então que possamos doar o máximo e o melhor de nós para o outro; que nossa despedida possa ser sempre lembrada com carinho ou, no mínimo, serenidade. Não percamos um só segundo com pensamentos e vibrações de baixa qualidade para com pessoas que não saibam valorizar nossas qualidades e tolerar nossos defeitos. Dediquemos todo o nosso tempo a fazer todas as coisas sempre com amor e da melhor forma possível.
A melhor coisa que podemos experimentar é o amor; assim, amemos, construamos (inclusive o futuro, que nada mais é do que a consequência da forma como agimos hoje) com nosso amor, com nosso servir, uma realidade mais agradável. Que viver não represente mais a cansativa e cotidiana (e sempre dolorosa) conivência e convivência com a hipocrisia, com a mentira, com o preconceito, com a leviandade; que possamos dar nossos passos na direção correta, com o sentimento verdadeiro nos guiando sempre tendo como norte a percepção de que não existem dois seres humanos iguais e que os defeitos vêm no pacote que cada pessoa é, junto com as qualidades e particularidades a que temos direito pelo simples fato de estarmos aqui e, assim, sendo maravilhosamente imperfeitos. É este, em minha opinião, o resumo da ópera.